O NAMORADINHO DO BRASIL

Aos 15 anos eu já me prostituía
Nunca fui bonito
Não tenho pau grande
Muito pelo contrário
Bichas velhas mamam rolas sem ligar pra nada
Múmias paraliticas e devassas chupam até pau mole
Claro que tive que chupar uns paus e dar o cu
Não gosto de lembrar
Aos 20 anos, um cliente bambambã da Rede Bobo de Televisão começou a chupar-me com frequência.
Ele era o cara da oficina de atores
Daí pra frente foram cinco anos de relacionamento
Orgias e drogas a todo tempo
Arrumei outros vários otários, ganhei um bom dinheiro.
Comecei a malhar
Alisei o cabelo
Arrumei um emprego, um papel secundário em Sarados da Tarde, uma novelinha pra adolescentes. 
A bicha velha que me arrumou essa mamata foi encontrada morta na sua cobertura
O caso foi investigado, mas não deu em nada.
Eu continuei botando coroas pra mamar até conseguir um papel na novela das sete
Desde então só faço programas à surdina
Esquemas ultra-compensatórios ou nada
Hoje sou protagonista da novela das oito, fiquei até bonito.
Sou o namoradinho do Brasil, o genro preferido das elites.
Como todas
Eu sou o cara

- Hoje estou dando-me alta, Doutor.

O Doutor não respondeu
Saí da sala e fechei a porta
Uma plaquinha dizia:

“Dr. Gustini Victor Strasser – Psicólogo”

Dentro do consultório, deitado no divã, com a garganta cortada, morto, ele concordou.
Ninguém pode saber o meu passado
De agora em diante vou sumir com todos os coroas que comi
Daqui pra frente tudo vai ser diferente
Sou um homem sério
Eu sou pra casar

Pablo Treuffar
Licença Creative Commons
Based on a work at www.pablotreuffar.com
A VERDADE É QUE EU MINTO

A VERDADE É QUE EU MINTO

23 comentários:

Tatuagem disse...

Meu dou alta doutor!

Genial

Bruno Joka disse...

Belo texto!

Anônimo disse...

vc gay

julio rasta disse...

pq so agora ele quer se regenerar ?matando os velinhos nao vai fazer dele um bom partido. hipocrita esse texo.
mas o fim tem sua marca amigo pablo.

Pablo Treuffar disse...

Vlw tatu, vlw Bruno, meu leitor fiel, ao anônimo idiota eu só digo o seguinte, sai do orkut por causa de idiotas como vc, q não sabem ler e confundem a com b. Já vc meu caro Júlio, muito bom ser critico, mas nesse caso acho q vc não entendeu, o texto critica a hipocriisia, fala de exemplos inquestionáveis tal qual o protagonista da novela, q uma vez namoradeiro do Brasil, seu passado não importa, uma vez chegado ao topo, o caminho foda-se, hipócrita sociedade sem questionamentos, e o personagem mata os coroas pq ele de tão vazio acredita ser o máximo e nega seu passado, por isso ele quer apagar todas as pessoas q possam o lembrar quem ele realmente é.

Paulo Laurindo disse...

Pablo...: sempre esquartejando preconceitos, hipocrisias, cinismos e fuleiragens.

RICARDO garopaba BLAUTH disse...

Treuffar é de fato o novo Buk

Cristina disse...

Me dou alta...
Adorei.

Carol disse...

Todas as vezes que volto aqui sou surpreendida com algo novo

Karlinha disse...

Esse também é meu auto-retrato , vc escreve de forma deliciosa.

LUCIENE RROQUES disse...

P. Treuffar, agradeço a presença e interação; seja sempre bem vindo. Penso que a leitura não está nos livros, mas em nós mesmos quando os lemos independente de serem clássicos, no meu caso sou ecletica e gosto de toda leitrura.
Seu texto, um retrato possível de realidades distantas sociais em uma fantasia surreal.
Um grande abraço!

Luana disse...

Que texto excelente!!!

Ira Buscacio disse...

Gosto desse furor literário. A humanidade nua e crua que vc exibe aqui, não é capítulo de novela, mas vida bem real. Tem muito lixo vestido de luxo por aí.
Valeu! bjão

Ulisses Borges disse...

Pablo, em primeiro lugar, obrigado por seguir meu blog, és bem-vindo. Em segundo, só queria que soubesses que gosto dessa tua crueza e acidez, desse teu jeito despudorado de escrever. Também gosto desse "foda-se" ligado para as normas, estruturas, "bons-mocismos", sílabas, regras... Assim teus textos independem de rótulos, voam livres, afinal, a pior coisa que pode acontecer a um escritor é ser engavetado em compartimentos óbvios. Ao ler esse teu texto, lembrei-me na hora de Pedro Juan Gutiérrez e a sua "Trilogia Suja de Havana", livro sobre o qual eu escrevi em meu blog e coluna no mês passado. Acredito que ele seja uma fonte de inspiração para ti. É isso, doa a quem doer, o importante é ser fiel a si mesmo. Abraço!

P. Treuffar disse...

Meu caro Ulisses
Procurei na sua pagina espaço para escrever-te
Não encontrei
Gostaria de agradecer as palavras de leitor voraz
Sobre o cubano Juan Gutiérrez, adoro o início do Rei de Hanvana, onde nas primeiras páginas ele narra uma ereção infalível a mortes, com todo o desenrolar no sentido do conceito de rei enquanto mendigo no livro. Achei foda.
Buk é outra associação automática aos meus escritos
Na verdade leio menos do que deveria
Você em um ano já deve ter lido mais do que eu em minha vida
Quem leio, acho foda e tenho consciência de parecido comigo entre escritos é o Rubem Fonseca.

Obrigado a todos os comentários

Abço

Sujeito Oculto disse...

História realíssima, provavelmente de muita gente. E posta de forma absolutamente crua. Tenho amigos que receberam propostas. Eles têm amigos que aceitaram propostas. Tem gente que não mede porque é isso que você falou: uma vez no topo, o passado inexiste. Duplipensar.

fravia disse...

o conto, sei não, gostoso é o bom escritor

Vampira Dea disse...

Adoro esses personagens amorais, parabéns pelo texto, violento e instigante, deu vontade de saber até onde ele vai.

Victor Thucomen disse...

Olá...

Parabéns pelo blog e em especial por esse post'...

Estou te seguindo.

Visite e siga Victor Thucomen (Disponível no Google)

Marcus Delt@ Alcoforado disse...

Lembrei de ontem vc falando desse texto! Muito phoda cara...hiláriamente phoda
Abs
Marcus

Marcus Delt@ Alcoforado disse...

Lembrei de ontem vc falando desse texto! Muito phoda cara...hiláriamente phoda
Abs
Marcus

Mitya disse...

Gostei do seu conto, o final surpreendeu.
Parabéns.
Abraços.

Leandro disse...

É mais um texto em que o leitor devora tudo duma vez.
Tal qual pau, se é pra chupar, que meta boca adentro duma vez, antes que ele passe a querer entrar no **

Há muitas interpretações, maioria de quem ler aqui vai dizer que é mais uma crítica social, de fato foi o que vi.