PUTADETERNUM - a digníssima do Valqueire

O fato não é
Nem permanece
Pensamentos sobre episódios são o que há
Aforismos abstratos
Futuro e passado não contém eventos
Realidade é ilusão fora do presente
Lembranças são montagens de memórias
Devaneios comandados pelo individual
Não vendo e não escutando, não aconteceu.
Não procurem sarna pra se coçar
Confiança é parceira da omissão
Matrimônios duram um ano
Penso logo existo
Elogiosas bronhas pra todas
Maior galanteio não há
As outras
Meu casamento atual acabou emendando noutro
Ser visto por sua mulher olhando bunda feia na rua é o fim
Olhar bunda na rua não é feio
Feio é olhar bunda feia e ser pego em flagrante
Imaginar-se traída com barangas anula o amor mulheril
Desejar mulher feia é proibido, mas sou anarquista.
Outro pé na bunda por causa das bundas
Outro casamento convertido em amantes
Ex-mulheres no papel da outra são intensamente depravadas
Não são capítulos de namorar
Solteiro não funciona
Elas querem o lado B
Botar chifres na filha da puta da esposa
Casado eu não perco o ímpeto vocacional feminil da promiscuidade vil
Tô morando com minha quarta ex-mulher
Temos uma filha e resolvemos tentar
Mulher/Amante/Mulher
Confusão da porra
Elas viajaram e levaram o Totó
Minha casa sem mulher, filha e cachorro, parece um museu.
Um silêncio total
Não um silêncio qualquer
Um silêncio perturbador
Um silêncio tão alto que é impossível deixar de ouvir tanta ausência de som
Liguei pras primas e dei uma festa
Não sou afeito a museus
Uma das putas chamava-se Jennyfher Valqueire
A piranha deixou-me embucetado
Comer vagabunda da Vila Valqueire é um erro geográfico abissal
Moro em Ipanema e a cachorra não é local
Difícil
Não consigo terminar relacionamentos
Eu agrego mulheres
Sou apegado
Não me satisfaço comendo minhas oito ex-mulheres
Com frequência
Somando vagabundas
Colecionando amantes
Tomo Viagra duas vezes por dia
Eu tenho cinquenta anos
Vou ter uma overdose
Coquetéis de bucetas com Viagras e Ecstasys matam mais que cocaína
Vim parar em frente ao gabinete do juiz
Depois da festinha lá em casa eu viciei na Jennyfher
Garota Centauros durante o dia
Mãe casada durante a noite
Puta devassa da Rua Caning
Mulher de família virtuosa da Vila Valqueire
Quem não perderia a linha no cardápio requintado das perversidades sexuais
Paguei paixão pra vagabunda
A esposa do sargento Bráulio da Vila
Tudo é o que não deve ser
O sobrenome do sargento é Pequeno Cornélio
Sargento Bráulio Pequeno Cornélio
Eu achava que era embuste da digníssima do Valqueire
A vida é engraçada
A moeda gira no alto
Quando otário vira machão é uma merda
Aí é matar ou morrer
Imaginem o sargento Bráulio descobrindo a verdade da mulher
Legítimas fotos num envelope causando desorientação de pensamentos
Depois de infinitos minutos olhando incrédulo, o sargento Bráulio tinha uma nova mulher.
O marido que governa o destino da família não pode fraquejar
É fadigoso pro grande homem ascendente conviver com safadezas
O chefe da moral e dos bons costumes não pôde aceitar
Jennyfher Valqueire foi degolada e sua cabeça fincada na grade da Praça Saiqui
Foto da capa do jornal O Povo
Bráulio Pequeno Cornélio foi condenado a doze anos de prisão pela morte de Edisleia Souza Capixaba
Sim, eram os nomes nas carteiras de identidade.
O argumento da acusação foi de crime planejado
Muitos acompanharam a estória
Todos livres pra dizer e escrever o que pensam
Sargento Bráulio foi perdoado por ser bom pai nos programas de televisão
Jennyfher Valqueire foi condenada várias vezes
Sentenciada à morte e executada pelo Cornélio
Bombardeada impiedosamente pela opinião pública
Puta ad aeternum
Democracia do só rindo
Eu soube da morte de forma ruim
Fui intimado a prestar esclarecimentos do meu envolvimento com Edisleia Souza Capixaba
Por isso estou na frente do gabinete do juiz esperando ser chamado
Quando eu for perguntado, responderei:

- Sou defensor das injustiças sexuais existentes no pensamento moral! As putas me amam! Os conservadores querem minha morte!

Nada do que foi será
Ajuízo a meu favor
Tenho mulheres pra cuidar
O fato não é e nem permanece
Como uma fênix, Jennyfher Valqueire renascerá em minhas punhetas.
Eu vou trucidar o Bráulio!

Pablo Treuffar
Licença Creative Commons
Based on a work at www.pablotreuffar.com
A VERDADE É QUE EU MINTO

A VERDADE É QUE EU MINTO

9 comentários:

Piter disse...

Muito bom, um Nelson Rodrigues em prosa poética. Fascinante.

Ana Baronny disse...

q horror pior q é assim mesmo, toda puta é maltratada, delicia.

Karlinha disse...

meu escritor favorito

Anônimo disse...

Muito legal...
A fonte parece não secar na prosa do Pablo, é mais uma dose do mesmo, só muito diferente do que foi antes, fazendo esse mesmo ficar completamente novo.

Robson disse...

Interessante e imoral, muito bom. Convido-o a ler um dos meus contos. Abraços e até breve.

nelma ladeira disse...

Nossa! Essa postagem é bem forte!
Boa tarde.

Anônimo disse...

muito bacana, da uma olhada no meu blog também. http://futilidadesdeumagarotaculta.blogspot.com.br/

euzinha disse...

nossa! q forte hein

Anônimo disse...

é muito ruim